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A Culpa Foi Do Poste! Né Seu Guarda?

Publicado em 06/02/2021 - 10:25 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Poste no meio da rua e esquina: Rio Paranaíba-MG. Jeremias Brasileiro, 2021.

Que o Zé Canelinha gostava de tomar umas pinguinhas todo mundo já sabia, até mesmo os guardas de trânsito e a polícia. Dia sim, retrovisor quebrado, outro dia, sem para-choque, vez em quando, estragava muros. Zé Canelinha toda semana tinha uma questão pra resolver por causa dos descuidados no volante  após tomar umas pinguinhas. O Guarda já estava cansado de chamar atenção do Zé Canelinha e dizia que da próxima vez, ele ia parar no xilindró. 

Zé Canelinha dava de ombros, jurava nunca mais ser pego no flagrante, que ia mudar de boteco, ficar mais perto de sua casa e por demais acreditava que o Guarda estava de marcação com ele, era só ele sair e aparecia o Guarda fazendo ronda na esquina do boteco em que ele tomava as “canelinhas”. Promessa de gente bêbada dura um segundo, o Guarda bem desconfiava, mas tinha um apreço por Zé Canelinha que na sobriedade, era um sujeito pacato, ativo, amigo, não brigava, não discutia, só resmungava.

 

Bem verdade era que Zé Canelinha evitava as ruas povoadas: de gente, de gatos, de cachorros e de pessoas sentadas nas calçadas. Mesmo durante o dia, dava voltas e andava por lugares de pouco movimento. Além disso, também sabia dos “tais olhos vivos” filmando as coisas erradas que os motoristas faziam em algumas avenidas, motivo pelo qual Zé Canelinha resolveu ficar mais cuidadoso.

 

Mesmo cercado de tantos cuidados, em um domingo à tarde, ainda sóbrio, uma vez que não tinha ido ao boteco. Zé Canelinha dirigia até sossegado, quando ao chegar a uma esquina para fazer conversão, assustou-se com um poste à sua frente e sem tempo de frear, só sentiu o forte impacto e o carro com a frente destruída. Podia ser coincidência, mas como a cidade era pequena, justamente o Guarda de Trânsito, em poucos minutos já estava no local. Zé Canelinha refeito do susto, observou bem o poste e reclamou com o Guarda:

 

- Olha seu Guarda, tudo bem que hoje nem beber ainda bebi viu, mas hoje eu estava certo viu! Foi o poste que ficou no meio do caminho, olha bem seu Guarda se isso é lugar de poste ficar! A culpa é de quem? Do poste, do prefeito, do loteador ou da Cemig? Vou querer indenização seu Guarda e prometo comprar carro novo e nunca mais passar nessa esquina! O senhor é testemunha seu Guarda, que dessa vez a culpa não foi minha, foi do poste sim!

 

O Guarda de Trânsito sorriu aquele sorriso sem graça! Não é que dessa vez o Zé Canelinha estava com a razão?

Tags: cidade pequena, cotidianos
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1