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A fonte do povo e as relações sociais

Publicado em 26/06/2021 - 09:19 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Fonte do Povo, Rio Paranaíba, MG, 2003.JB

Córregos e fontes antigamente, nas cidades pequenas principalmente, eram espaços sociais de convivências, de buscar água, de contar as notícias da cidade. Socializações de saberes, trocas de experiências, de conhecimentos sobre saúde, curas com remédios caseiros, e outros fazeres. Lembrar para contar e contar para não esquecer.

 

Minhas lembranças de infância em Rio Paranaíba, hoje me permitem retornar através das memórias e trazer o que a maioria dos jovens de hoje sequer imagina sobre os tempos em que existia uma “fonte do povo”, “um buracão”, lugares de lavar roupas, fonte das lavadeiras, lugares de sociabilidades também.

 

As mulheres colocavam rodilhas nas cabeças, ora para buscar água em lata de vinte litros, ora para trazer roupas em bacias, às vezes colocavam para secar nas pedras e arames na própria fonte. O maior prazer que sentia era no momento de ajudar a torcer as cobertas, os lençóis, mas os cobertores encharcados de água, exigiam uma força maior de nossos braços juvenis.

 

A fonte também podia servir de encontros às escondidas, a moça ia buscar água e marcava de encontrar com o rapaz que também ia buscar água, mesmo que existisse desconfiança dos pais, pois, principalmente os homens, não eram afeitos a colocar lata de água na cabeça. As pessoas mais do Alto do Querosene se deslocavam para o buracão, que era também um lugar de aventuras para os meninos, por causa da dificuldade de acesso.

 

Essas fontes eram o que poderíamos dizer no tempo de hoje, o Whatzapp do passado, em que as informações sobre a cidade corriam de boca em boca, querer saber das novidades, era ir e estar na “Fonte do Povo” e no “Buracão”. Não sei como se encontra esses lugares atualmente, mas seria interessante transformá-los em patrimônio cultural da cidade e a partir dos mais velhos, ainda vivos, recontar suas histórias. 

Tags: fontes, histórias, memórias, lembranças
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1