A in-solidariedade social e a solidão de estar só em tempos de pandemia
Publicado em 16/10/2021 - 14:56 Por Jeremias BrasileiroA solidão do ser humano não é um mistério, misterioso é o mistério em que vive o espirito solitário. Escrevi esta oração em 1980 e ela me parece atual, diante das situações cotidianas permeadas de questões sociais que em determinados momentos assumem ares coletivos de tragédias, mas que poderíamos pensar também ser consequências de outras anomalias que presenciamos na atualidade, em que a pandemia ainda faz parte de nossas vidas.
A viagem inesperada para o òrún (céu) de Dona Ilza e seu filho Breninho, congadeiros de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito de Uberlândia, nos deixou impactados não por se tratar de mais dois devotos de nossa tradição que se despediram desse mundo endurecido, mas sobretudo por se tratar de uma tragédia que igualmente nos leva a questionar o sentido de nossas humanidades nas relações sociais cotidianas.
Nós nos acostumamos tanto ao isolamento em tempos de pandemia, que de repente, a ausência de pessoas que víamos diariamente, não são e não eram perceptíveis da mesma forma que antes. Assim, vizinhos ausentes por uns dias, amigos sumidos das redes sociais, poderiam caracterizar para nós, tempos de isolamentos dessas pessoas sem considerarmos outros eventos paralelos que afetam todos nós diariamente.
O mundo da pandemia também nos enclausurou na interioridade de nossos casulos pessoais e em determinados momentos, priorizamos a nós em detrimento de outros. “Priorizar é sempre deixar outros em segundo plano. Alguém ficou sem nós. E essa decisão todos com bom senso fizeram. Estamos vivos, mas alguns estão desolados ou não resistiram à essa proteção. O que nos protege também nos mata. Acontece assim com as doenças autoimunes” (Paulo Eduardo).
“Ficamos dessa forma à mercê de muita coisa, e a depressão foi talvez um dos maiores transtornos detectados em muita gente. Mas casos assim não serão mais raridades. O que nos coloca no topo da cadeia é o que também nos extermina. Nossa capacidade de nos adaptarmos. Adaptamos tanto que deixamos de ser humanos” (Paulo Eduardo).
Além dessa nossa solidão e in-solidariedade com outros, a ausência do Estado precisa ser também um ponto de questionamento: Dona Ilza tinha problemas de saúde sérios e cuidava sozinha de seu filho tetraplégico. Até que ponto a existência de uma rede de apoio institucional poderia servir de amparo, de cuidados às pessoas nessas condições e não tentar culpabilizar parentes e vizinhos quando ocorrências desses momentos de infortúnios surgem inesperadamente?
Para saber mais informações acesse:
https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2021/10/13/corpos-sao-achados-em-residencia-no-bairro-tocantins-em-uberlandia.ghtml