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Covid-19: Dança Insensata Em Tempos De Luto

Publicado em 13/02/2021 - 15:41 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Dança Isensata: Acervodigital Jeremias Brasileiro

O tempo geralmente é o senhor de todas as razões. E em um futuro não muito distante, saberemos ou outros saberão como conseguimos criar uma peça teatral de horrores em que os personagens são humanos e que mesmo estando mortos, enterrados, sorrimos sobre seus ossos, dançamos sobre seus ossos, ignoramos a dor de seus parentes próximos e produzimos uma teatralização macabra e impensável, para esse século XXI com tanta tecnologia, com tanta modernidade e com tamanha desumanidade. Evidente que no Brasil de tantas desigualdades sociais, uns dançam mais do que outros. Infelizmente, há aqueles que dançam sobre seus próprios ossos, pois quando acometidos do COVID-19, não possuem uma rede assistencial particular que possa, na maioria das vezes, contribuir para que não morram.

 

Por outro lado, os ricos, os poderosos políticos, não somente furam filas de vacinas, antes disso já possuíam possibilidades de tratamento diferenciado por terem posses ou relações de poder. Em decorrência disso, quanto mais a ignorância perpassa pela sociedade inebriada com a ilha da fantasia da imunidade in natura, mais continua a dançar sobre os ossos das centenas de milhares de pessoas sepultadas durante a pandemia.


Sabemos que até o momento não há vacina para todo mundo, logo, cuidar-se ainda é primordial ou continuaremos a contaminar os mais próximos de nós como se fosse algo natural. Não adianta sequer nos sensibilizarmos com as poucas mortes de artistas famosos, políticos de carreira, personalidades sociais de “sucesso”. Na realidade, deveríamos chorar pelas pessoas próximas de nós: os humildes, os pobres, os desassistidos, e, não naturalizarmos como sendo destinação divina, a morte dos mais idosos que estão no cotidiano de nossas vidas.

 

Dançar sobre os ossos de nossos mortos: É perceber o quanto estamos imersos em um bailar macabro de insensatez política, religiosa, cultural e social. A história não julga, todavia o tempo com certeza um dia condena e cobra muito caro pelas atitudes insanas dos humanos, pela mortandade anunciada e permitida por grande parte dos poderes políticos. É fato que 2021 não terá carnaval, mas quantos bailes dançantes com a morte teremos Brasil afora? Continuaremos a dançar sobre os ossos dos nossos mortos por COVID-19? 

Tags: Covid, festa, insensatez
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1