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Festa Da Congada De Uberlândia Em 2020 -Um Arco-Íris De Fé

Publicado em 07/10/2020 - 17:23 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Praça do Rosário de Uberlândia, 2006. Acervo Digital Jeremias Brasileiro.
Como podemos pensar em uma festa tradicional que ocorre no centro da cidade de Uberlândia há mais de 140 anos? E de que modo as mudanças, as transformações dessa manifestação, em alguns aspectos, parecem se confundir com a própria história da cidade? A festa da Congada de Uberlândia nos inícios dos anos de 1870: principiou-se com grupos de Congado a fazer uso de embiras para trançar fitas nos dias de festejos, caixas a base de cordas e de couros, bandeiras confeccionadas com palhas de milho.

Já no início do século 19, o espaço na Igreja do Rosário, era ainda circundado por matagal, com muitas árvores de cerrado que davam aquelas vagens pretas, e só existia passagem pela Cesário Alvim e Floriano Peixoto, caso contrário: o atalho era por trieiros no meio do matagal.

A Igreja do Rosário, construída em 1929, é patrimônio material do município desde 1985. A festa da Congada é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial da cidade desde 2008. A Praça do Rosário é registrada como lugar de memória e presença cultural afro-brasileira, desde 2018. Esse arcabouço jurídico de proteção patrimonial reafirma a importância da manifestação cultural e religiosa da festa da Congada e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. 

Pela primeira vez nesses mais de 140 anos, sendo 104 anos de modo oficial, a festa da Congada de Uberlândia não foi realizada, em virtude da pandemia COVID 2020. Desde o mês de julho os tambores estavam calados, ouvem-se os sons por meio de LIVES que acontecem nas diversas redes sociais. A Praça do Rosário estava vazia, não havia mais a expectativa da chegada, quando as pessoas se aglomeravam para ver o desfile dos grupos, uma procissão de cores, um arco-íris cultural afro-brasileiro no centro do coração de Uberlândia. 

Contudo, o silêncio dos tambores não silencia a fé desse povo. Teve Congada sim na cidade de Uberlândia com uma programação diferenciada, para mostrar que a tradição continua, está viva e pulsante e assim vai continuar gerações afora. 

A marcha dos tambores foi substituída pelas rezas, cantos, louvores, em um novenário a contar com a participação dos grupos com pessoas previamente selecionadas para não se ter aglomerações. E por fim uma enorme carreata percorreu os bairros da cidade com as presenças dos santos devocionais, bandeiras e estandartes, também um verdadeiro arco-íris de fé.

Igreja do Rosário em construção. Acervo Digital Jeremias Brasileiro.

Público aguarda desfiles dos grupos na Praça do Rosário. Acervo Digital Jeremias Brasileiro, 2006. Bandeiras chegam à casa do presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, Deny Nascimento, sendo saudadas por Jeremias Brasileiro, Comandante Geral da Festa da Congada na cidade de Uberlândia.

Tags: Festa Da Congada De Uberlândia Em 2020 - Um Arco-Íris De Fé
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Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1