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Irmandade dos Saberes e Sabores - história de um patrimônio afro-brasileiro.

Publicado em 24/07/2021 - 16:33 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Arlen Costa

Ao iniciarmos uma pesquisa no ano de 2013, com apoio da FAPEMIG, sobre hábitos alimentares de pessoas idosas vinculadas à Irmandade do Rosário de Uberlândia, não tínhamos a dimensão apropriada do alcance que tal estudo poderia proporcionar.

Pensávamos que o mesmo ficaria focado nas memórias de jantar, no entanto, à medida que o trabalho ia avançando e o número de personagens aumentava, algumas falas terminavam por se completar em outras quando a discussão se concentrava na produção de alguns pratos, entre os quais nós destacamos a macarronada.

Este prato tão típico e comum para quase todos os participantes da referida pesquisa, chamava a atenção quando nós observávamos um discurso comum em todas as falas: “o gosto da macarronada não é mais o mesmo”, “o gosto de antigamente era bem melhor do que o gosto de hoje”.

Faz sentido nesse contexto nos indagarmos se realmente o que se propõe nos dias de hoje como algo saudável e bom para saúde pode ser, de fato, o que todos almejam e assumem enquanto tal. Se ao dialogarmos com pessoas que poderíamos considerar simples do ponto de vista científico, acadêmico, conseguem acessar com muita profundidade as motivações que levaram às alterações dos “gostos das coisas”, como das macarronadas a partir de um emaranhado de situações que envolvem desde a chuva, o capim, o leite, os insumos e a produção do queijo.

No caso da macarronada, a tradição de fazê-la não é mais a mesma devido ao surgimento ou acrescimento de outros produtos como a carne moída e para além disso, a problemática do queijo não ser tão curado, não trazer as essências do passado, a presença da manteiga, da gordura, daquilo que passava sabor à macarronada, dando ao prato um sabor diferenciado em decorrência de um queijo bom, propiciado pela produção de um tipo de leite quase artesanal. O quase artesanal sabor do queijo curado está fixado na memória das pessoas como rememorações de um modo de fazer macarronada cujo gosto não se consegue mais atingir o paladar dos entrevistados.

Se por um lado, a mudança do gosto da macarronada está associada às transformações ocorridas no campo, refletidas nas diferenças atuais de produção do queijo, este menos saboroso, por questões climáticas – secas prolongadas, pastagens ruins – e, sobretudo devido ao uso do capim braquiária em substituição ao capim gordura e jaraguá – estes dois últimos faziam com que as vacas produzissem um leite de melhor qualidade – de outro, podemos pensar até que ponto o aumento de produção em escala acelerada para suprir o mercado consumidor, modificou também o processo de produção do macarrão.


 *Deseja saber mais sobre este tema? Acesse o livro: Irmandade dos Saberes e Sabores – História de um patrimônio afro-brasileiro. O livro é resultante da Premiação no Fundo Municipal de Cultura, PMIC – Cultura Afro-Brasileira. Acesse o LINK criado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Uberlândia: docs.uberlandia.mg.gov.br

Tags: gastronomia, congada, saberes, sabores, memórias, irmandades
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1