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O Oásis Da Solidão: A Lei Seca E O Toque De Recolher

Publicado em 27/02/2021 - 09:39 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Antonio Vitor Rocha, Bairro Patrimônio (Morada da Colina), Uberlândia.

Estamos em lokdown, com narrativas as mais diversas a respeito de isolamento e toque de recolher. Na realidade estamos a viver momentos em que muros de pedras se erguem não mais para privilegiar a beleza e isolar classes sociais, a criar fronteiras humanas cada vez mais presentes na cidade. Olhar para a solidão das ruas em Uberlândia e pensar como foi que isso aconteceu, diz muito sobre o tipo de humanidade existente no século XXI.

 

O cercamento duro qual muro de pedra não impede o invisível de penetrar no interior dos lugares tidos como ilhas de isolamentos, o vírus não é forma humana física que se impede através de construções de arranhas céus, condomínios de luxo, embora seja também outra realidade, que os atingidos em grande parte, são as pessoas mais vulneráveis que não podem ficar o tempo todo isoladas, precisam sobreviver.

 

Por outro lado, a decretação de uma lei seca, com impedimento de comercialização de bebidas alcoólicas fez com que aflorasse uma faceta social constrangedora: as enormes filas e aglomerações nos mercados e supermercados em busca do liquido para armazenamento nos lares como se o mundo fosse acabar de repente.

 

A bebida que sai das prateleiras das distribuidoras e abarrota as cozinhas das residências, as despensas, os freezers nas chácaras, é sem dúvida um agregador potencial de outras formas de violências. Bebidas em excesso produz discordâncias entre vizinhos, entre familiares e não são raros os casos que terminam em agressões que vão para além das discordâncias verbais. Não seria nesse caso mais prudente limitar, do que proibir?

 

Nossa suma prepotência em pensarmos que dominamos qualquer evento histórico, quer seja cientifico ou social, bastando para isso nos isolarmos em oásis protegidos por cercamentos e pirâmides sociais, nos faz reféns ao mesmo tempo de uma solidão impactante de ideias capazes de solucionar o caos que produzimos. Pensávamos que sabíamos de tudo, nos cercamos por detrás de um muro de convicções inabaláveis de que essa pandemia passaria rapidinho, questão de dias, depois semanas, depois alguns meses. Esquecemos de combinar com o vírus “o dia que ele iria embora”. Nos resta por isso, nesse momento, vivenciarmos esse estranho oásis de solidão.

 

 

Tags: Uberlândia, oásis, lei seca, lokdown
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1