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Ormezinda Abadia Se Foi, Mas Sua História Ficou

Publicado em 24/04/2021 - 10:01 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Fonte: Ormezinda Abadia

  

 

Conheci Ormezinda Abadia na década de 1990, uma pedagoga apaixonada pela educação, que extrapolava seus fazeres em salas de aula e trabalhava em prol da transformação social de adolescentes por meio do fazer cultural. Incansável no seu acreditar de que a cultura era alimento de alma, travessia de vida segura para a juventude, Ormezinda Abadia se transformava e alterava o “ser social” dos jovens que viviam em condições de desesperança, nos bairros mais distantes do centro de Uberlândia.

 

A dança era mais que entretenimento artístico, arte refinada, a dança para Ormezinda Abadia era um poderoso elemento de transformação social. Ao potencializar os jovens nessa empreitada artística, criou um portal de esperança permeado de resistência e fé cultural, um cordão umbilical enraizado em sua ancestralidade, pois, sua mãe, Dona Mercedes já fora Rainha da Congada na década de 1940, ou seja, Ormezinda Abadia era filha de rainha, amava a cultura de seus antepassados e se orgulhava de ser descendente daqueles que um dia vieram do Reino do Congo em travessias pelo Atlântico.

 

Ormezinda Abadia era um raio de luz no coração de muita gente, e, não por acaso, por onde passava, deixava um rastro de luminosidade. Quantos jovens ela tirou das ruas? Quantos jovens por mãos dela encontraram um caminho profissional não só nas artes, mas em outros setores de trabalho? Ela oportunizava uma caminhada para todos que dela se aproximavam e não exigia de ninguém que professassem a sua fé. Dizia lá em 2013: “- sou evangélica, mas o congo está na minha raiz, na minha tradição”.

 

E a dança de igual forma estava na vida de Ormezinda Abadia. A dança para além dos palcos, a dança que salvava vidas. Encantou-se logo após executar seus movimentos dançantes já que a idade não era fronteira para seu viver artístico. Portanto essa simples crônica, não dá conta da grandeza que foi Ormezinda Abadia, trata-se de uma pequena homenagem, um gesto de gratidão.

  

Tags: Ormezinda, homenagem, gratidão
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1