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Quem Não Quer Tomar Vacina, Sai Da Fila, Uai!

Publicado em 23/01/2021 - 10:46 Por Jeremias Brasileiro
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Créditos da imagem: Imagem da internet. BBC.COM

Nas Minas Gerais dos mineiros desconfiados, em toda cidade, principalmente pequena, tudo que se diz, todo mundo fica sabendo. Tião Matuto e Zé da Rua discutiam a situação do povo que teimava em não querer vacina da China por acreditarem que era coisa perigosa para a saúde. Sendo os dois verdadeiros porta vozes das esquinas, que davam noticia de tudo, posto que amanheciam a tomar o próprio café, sentados na forquilha da esquina de uma das principais avenidas da cidade, daquelas avenidas que se vê do começo ao fim a movimentação das pessoas.


Por isso seus olhares atentos e ouvidos aguçados não perdiam nada e para fazer jus à fama de bons sujeitos noticiosos dos acontecimentos diários, estavam a discutir a questão da vacina da China e as consequências desse imbróglio de se tomar ou não a tal vacina chinesa, se bem que na cidade o primeiro lote contivesse menos de cem vacinas para uma população de 10 mil pessoas. Tião Matuto assim, questionava o Zé da Rua:

 

- É deveras Zé da Rua que a vacina que chegou num dá nem pra gente saber quem vai tomar? Se tomar nas escondidas como a gente vai saber dos escolhidos? A gente precisa assuntar mais perto lá da saúde, não é?

 - Então Tião Matuto, gente deve ficar esperto viu com essa vacina, faz três dias antes dela chegar que vi uns que andam arrotando peito cheio de que num vai tomar, que num precisa, essa negação aí da vacina né, mais acontece que três dias vejo alguns desses assuntando lá na porta saúde, se não quer vacina, mode pra quê ficar espionando que dia vai chegar ne? Tem até esse tal de olho vivo lá no poste né, mas num dá pra fiscalizá essa gente mascarada, né Tião Matuto?

  - É deveras Zé da Rua, é deveras! Carece de pensá solução pra quem fica atrás da cortina arrotando que num precisa de vacina, gente devia fazê um cara ou coroa, tipo assim um plebiscito, acho que é isso né, aquele da votação do sim sim, não não. Daí ficava assim, que do contra fica dum lado, quem qué vacina, fica na fila, acho que assim Zé da Rua, ia até sobrá vacina! 

- Eita Tião Matuto, foi bem lá no gargalho da questão! Sabe aquela turma que num sai lá do bar do Zé Pinguinha? Parente de rico, de político, até de nóis também? Então! Dia vai, dia vem, ninguém aceitava a tal vacina da china, agora fica assuntando na porta da saúde, que dia chega, como é que é! Olha Tião Matuto, se a gente não vigiá, tomam vacina escondido e vai pro Zé Pinguinha arrotar que não tomou, não precisou, e tira de quem a vacina que tomá! 


- Por isso eu confirmo minha ideia Zé da Rua! Tinha de ter um tira tema com esse povo negadô da vacina! Quem muito corage arrota, corre até de onça mansa! Por isso que digo Zé da Rua, quem não qué tomá vacina é só sai da fila uai!

Tags: negação, vacina, fila
 Jeremias Brasileiro Jeremias Brasileiro
Crônicas e Ensaios das Gerais

Doutor em História Social pela Universidade federal de Uberlândia. É Comandante Geral da Festa da Congada da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano de 2005 e presidente da Irmandade do Reinado do Rosário de Rio Paranaíba, Alto Paranaíba, Minas Gerais, desde o ano de 2011. Desenvolve pesquisas sobre cultura afro-brasileira e sua diversidade nas Congadas de Minas Gerais, associando-as com o contexto educacional, em uma perspectiva epistemológica congadeira, de ancestralidade africana. Um intelectual afro-brasileiro reconhecido na obra de Eduardo de Oliveira: Quem é quem na negritude Brasileira (Ministério da Justiça, 1998), que lista biografias de 500 personalidades negras no Brasil; e na obra de Nei Lopes: Dicionário Literário afro-brasileiro (Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2011). Detentor de um dos maiores acervos digitais sobre as Congadas de Minas Gerais, constituído desde a década de 1980, historiador com vasta experiência e produção cientifica sobre ritualidades, simbologias, coexistências culturais e religiosas em oposição ao conceito de sincretismo. Escritor, poeta, possui textos de dramaturgia, crônicas, literatura afro-brasileira.

Leia também: Sincretismo não! Coexistência cultural e religiosa, sim. Parte 1