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Uma mãe tem que falhar
Publicado em 01/07/2021 - 12:29 Por Dra. Gabriela Lein Vieira A partir do nascimento de uma criança, ela precisa de muita proteção e cuidado. A mulher que está ali cuidando, exercendo a função materna, terá uma longa jornada para construir a maternidade com aquele filho. Digo isso, porque do mesmo modo que não se entra em um mesmo rio, nas mesmas águas duas vezes, não se é a mesma mãe para diferentes filhos. Isso é construído, com cada qual a sua maneira e com falhas diferentes.
Primeiramente, é importante advertir que falhar é humano, não queiramos ser deuses, nesse lugar não se ensina um filho a caminhar e sim, impossibilita sua existência.
Com o passar do tempo, o filho irá tentar ficar em pé no berço e cair. Dará os primeiros passos e baterá a cabeça. Arranhará o joelho inúmeras vezes. Será rejeitado por algum amiguinho, e terá que lidar com isso. É esse o mundo que temos. É isso a vida!
Amar um filho, é também topar perder ele do lugar de um ideal de filho. Deixar crescer, apostar que ele conseguirá ficar de pé e dar os primeiros passinhos, mesmo após tombos. É não querer invadi-lo e respeitar seu tempo e suas escolhas. Deixar um filho desejar é lindo e também angustiante. Ele irá desejar coisas e situações, que são diferentes do desejo materno. Isso quando vai tudo bem, essa mãe não será suficiente para ele!
Para provar que isso é bom, posso citar exemplos. Como que você conseguiu juntar dinheiro para quitar a hipoteca da casa? Foi no incômodo, por temer ficar sem teto, não é mesmo? Como você consegue não comer brigadeiro ou lasanha todos os dias, optar por um prato de abobrinha insonso? Para se proteger das doenças, investir na própria saúde. Percebe que é a partir de incômodo que você se movimenta? Seu filho não é diferente.
Para ter um adulto saudável mentalmente, entenda essa expressão, como alguém que mesmo nas situações difíceis da vida, quererá viver e terá condições para construir a própria história, é preciso a mãe falhar.
Se isso não acontecer, ele não sairá de casa, não se relacionará com o mundo ao qual nos apresenta e sofrerá porque não parará de desejar. Mas mesmo desejante, não terá pernas para caminhar sozinho, uma vez que essa mãe era tão toda, que não restou espaço para ele.
Bem, desejo a todas as mãe que estão me lendo, que falhem! É o melhor que podem fazer, na melhor da hipóteses.
Mas nos atentemos para essa construção materna. Quando a criança chora, a mãe corre de encontro, esse bebê recém chegado ao mundo, não sabe falar ou tomar as próprias decisões. Mas já consegue informar sobre seus incômodos. Chora por medo, fome, frio, dor e também por não saber o motivo do choro. Bem, nessa posição, a mãe, cuida dessa criança para que não lhe falte nada. Defende ela da morte, mas com os anos tem que a aprender a não protegê-la da vida. Vou explicar.
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