Faça login na sua conta!

Ainda não tem uma conta? Cadastre-se agora mesmo!

Mega Colunistas

Colunistas

Home Office para a Pessoa com Deficiência – PCD. Como tornar inclusivo?

Publicado em 26/10/2021 - 13:33 Por Tulio Mendhes
destaque
Créditos da imagem: Túlio Mendhes

A pandemia do novo Coronavírus acelerou a necessidade de adaptação pra o trabalho no ambiente doméstico – o famoso Home Office. Bom... pra começar o trabalho remoto não é exatamente uma novidade, mas muitas empresas ainda alimentavam certa resistência a prática dessa modalidade. Inclusive muitos empregadores foram peoas de “calças arriadas" e não sabiam como proceder!

Havia muitos paradigmas cercando sua aplicação. Enfim... Agora o que se discute é a flexibilização e o futuro do home office, afinal, muitas empresas tem discutido a ampliação e até mesmo a permanência dessa modalidade. Mas, será que o trabalho remoto é acessível? Diante desse cenário, você já parou para pensar nas pessoas com deficiência - PCD? Será que as empresas estão disponibilizando o uso de todas as ferramentas necessárias para o funcionário PCD desempenhar bem as suas atividades  laborais em casa?

Pois é exatamente nesse boom de novas ferramentas e plataformas na rotina dos escritórios caseiros, é fundamental compartilhar algumas dicas de acessibilidade para empregadores que possuem colaboradores com deficiência. Por isso na coluna de hoje faço uma espécie de brainstorm pra que as empresas tornem o home office mais produtivo e de quebra mais acessível.

Pois bem... essa modalidade de trabalho pode ser fundamental para o aumento da inclusão de pessoas com deficiência (PCD) no mercado de trabalho. Antes de qualquer coisa precisamos falar sobre a Lei Nº 8.213, de 24 de julho de 1991 que determina que empresas reservem vagas para PCDs. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 8,4% da população brasileira– o que representa 17,3 milhões de pessoas – tem algum tipo de deficiência.

A legislação é fundamental para minimizar a discriminação, para alertar sobre a importância da inclusão e para garantir o pleno exercício da cidadania da PCD. Os nossos direitos conquistados, precisam ser preservados e ampliados. Para tanto, é de suma importância à ampla articulação e união de esforços dos diferentes segmentos da sociedade, elevando o protagonismo das PCDs.

A imposição da lei torna-se o primeiro motivo para promover a inclusão no mercado de trabalho, apesar de sabermos que esse não é o melhor caminho, “maaaaaaaas”. A verdadeira inclusão acontece quando há convicção de que esse é o desejo real das empresas e empreendedores, refletido nos seus propósitos, nos seus produtos e serviços.

Bom... ainda de acordo a legislação, a relevância percentual para se empregar pessoas com deficiência, varia de acordo com a quantidade de funcionários. Empresas que tem em seu quadro pessoal de:

  • 100 a 200 empregados, a reserva legal é de 2%.
  • 201 a 500, de 3%.
  • 501 a 1.000, de 4%.
  • 1.001 empregados devem reservar 5% das vagas.

As multas para instituições que descumprem a legislação podem chegar a R$ 228 mil. Lembrando que essa regra também é estendida as pessoas reabilitadas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS.

Bom... há dois anos a Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério da Economia, concluiu que temos no Brasil 7 milhões de pessoas com deficiência aptas para ocuparem formalmente posições mercado de trabalho, mas desse número apenas 486 mil estavam registradas em empregos formais em 2019. Segundo uma pesquisa, 44% dos profissionais com deficiência que estão formalmente empregados, alegaram já ter deixado de ir a uma entrevista de emprego por dificuldades de deslocamento.

Eu mesmo já enfrentei essa situação. Entre os principais obstáculos existem as calçadas inapropriadas, a falta de infraestrutura acessível como rampas e faróis inteligentes, o transporte publico ineficiente e obviamente a falta da aplicação da acessibilidade atitudinal dos pedestres, dos motoristas que estacionam obstruindo as rampas de acesso, dos profissionais contratados para auxiliar o embarque e desembarque nos terminais de ônibus etc.

Infelizmente já descartei boas oportunidades, mas que custariam muito caro pra eu usufruir das demandas de modo adequado. Quando falo custar “caro”... não me refiro apenas ao valor monetário... falo do risco de sofrer algum acidente durante o percurso a caminho ou retorno da empresa, justamente pelos obstáculos citados anteriormente, sem falar no medo quanto a integridade física. Parece exagero, mas não é. Quem vivencia testemunha.

Lamentavelmente o mundo corporativo ainda reflete o comportamento da sociedade com relação à inclusão, em outras palavras, está contaminado por crenças limitantes que dificultam a inclusão. A falta de acessibilidade é o principal aspecto para participação das PCDs no mercado de trabalho.

Por outro lado, a pandemia do coronavírus potencializou o aumento da oferta de empregos para PCDs, principalmente na modalidade home office. A barreira de deslocamento que citei, além de outras iniciativas voltadas para a inclusão, tem sido mesmo quea curtos passos, minimizadas possibilitando maior oportunidade de emprego em igualdade com os demais.

Todavia o conceito de trabalhar em home office pode parecer algo simples para a maioria, afinal, não é preciso enfrentar o trânsito caótico para chegar ao escritório, sair de casa as pressas por estar atrasado, o custo com alimentação nem se compara de quando se está fora de casa, entre outras coisas...

Tudo isso é ótimo. Mas é grande a probabilidade de ócio ou ocupação do tempo com coisas que desviam o foco do cumprimento das obrigações profissionais, por exemplo, navegar mais tempo nas redes sociais ou cuidando de assuntos pessoais e domésticos, então o cenário muda. O que era pra ser bom passa a ser um entrave. Por isso o segredo para trabalhar em casa é manter constante o foco e a produtividade. Para uma PCD, a mudança no ambiente de trabalho remoto exige algumas adaptações extras, da mesma forma que acontece na empresa.

Sendo assim, a primeira coisa que os gestores devem fazer é mapear todos os funcionários com deficiência e avaliar todas as adaptações que diz respeito as suas demandas, afinal, para cada tipo de deficiência há uma necessidade específica.

Embora normalmente as PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS OU COGNITIVAS se sintam mais confortáveis no ambiente familiar, a mudança repentina em suas rotinas pode ser impactada demandando de mais tempo para se adaptarem. Portanto, é necessária a flexibilização para essas PCDs, como considerar a reaplicação das metas. Por isso, cabe a empresa e aos gestores compreender e acompanhar de perto o desenvolvimento, oferecendo o apoio necessário para que cumpram suas obrigações da melhor maneira possível.

PESSOAS COM O ESPECTRO AUTISTA, também podem fazer bom uso do trabalho home office sem ter que lidar com as conturbações do deslocamento até o trabalho. No entanto, barulhos e distrações no ambiente “residencial” como obras, movimentação de vizinhos, barulho do trânsito, na rua, etc podem desconcentrá-las constantemente quando precisam trabalhar de forma contínua. Assim, é importante levar em conta repensar a cobrança da produtividade.

Para as PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS AUDITIVAS, é necessário o ajuste na participação do trabalho integrado, por exemplo, devido à presença de barreiras para se comunicar de forma remota ou por ligações, existem dois recursos muito importantes para a acessibilidade. O primeiro é a presença de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. O segundo é a inserção de legendas em todas as reuniões e apresentações, o que vale tanto para o trabalho no escritório quanto em casa. Entretanto, existem surdos que não são alfabetizados em LIBRAS. Nesse caso, a legenda supre com eficácia essa demanda. Existem várias tecnologias gratuitas disponíveis eficazes e superfantásticas.

Para PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS FÍSICAS, a acessibilidade tende estar relacionada ao ambiente e às ferramentas externas. Por exemplo, a necessidade de algum móvel específico ou um aparelho que facilite a execução das tarefas. Assim, é necessário oferecer e “instalar” esses aparelhos na residência do funcionário ou, se for o caso, adquirir novos meios que se adaptem ao espaço a ser utilizado.

No que diz respeito à importância das tecnologias assistivas para a inclusão profissional das PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS, existem alguns recursos imprescindíveis que tornam o ambiente de trabalho mais acessível. De áudio-descrição a sintetizadores de voz etc.

Graças ao avanço das Tecnologias Assistivas (TA), pessoas com diferentes tipos de deficiência consegue realizar variadas funções no mercado de trabalho. Desde computadores com recursos inclusivos, softwares laborais, comunicação alternativa etc. Contudo, apesar da “belezura” proporcionada pela tecnologia, também é necessária a prática da Acessibilidade Atitudinal que falei na ultima coluna. Essa acessibilidade trata do incentivo das percepções sem preconceitos, discriminações ou depreciações que, prejudiquem a participação social da PCD em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. Afinal, ela é base para os demais tipos de acessibilidade, pois é necessário ter uma visão ampla para pensar em soluções e eliminação de barreiras. 

A acessibilidade não deve ser apenas material, mas digital também. A Acessibilidade Digital se baseia no direito e na facilidade de todas as pessoas desfrutarem de atividades, serviços, produtos e conteúdos disponíveis na internet sem nenhum tipo de impedimento. Pensando nisso, diversos aplicativos são desenvolvidos para colaborar com pessoas com deficiência, auxiliando tanto na acessibilidade digital quanto na qualidade de vida da PCD. Inclusive existem tecnologias pagas e gratuitas disponíveis e superfantásticas, por exemplo:


  • O Outlook disponibiliza ferramentas para o e-mail ficar inclusivo como adicionar textos “alt” a imagens para que as pessoas que usam leitores de tela possam ouvir o que a imagem se trata. Também disponibiliza o uso de fontes, cores e estilos para maximizar a inclusão das mensagens antes de enviá-las.
  • O Google Meet, que é gratuito, tem com o recurso de captions (legendas), assim como o Skype... ambos são benéficos também para deficientes auditivos oralizados.
  • A Suite VLibras é um conjunto de ferramentas gratuitas e de código aberto que traduz conteúdos digitais (texto, áudio e vídeo) em Português para Libras, tornando computadores, celulares e plataformas Web mais acessíveis para as pessoas surdas.
  • O Zoom é considerado uma das ferramentas de videoconferências mais acessíveis para quem utiliza tecnologia assistiva. Pois disponibiliza suportes como a áudio-descrição.
  • O DOSVOX é um sistema computacional, baseado no uso intensivo de síntese de voz, com o objetivo de justamente facilitar o acesso de deficientes visuais a microcomputadores.
  • O JAWS é um leitor de tela, desenvolvido para PCD visual impedido de ver o conteúdo da tela ou navegar com o mouse. O JAWS fornece saída de fala e braile para os aplicativos de computador mais populares do seu PC. Permite a navegação na Internet, escrever um documento, ler um e-mail e criar apresentações no escritório, na área de trabalho remota ou em casa.
  • Zomtext é um programa avançado de ampliação de tela. Feito para usuários com baixa visão, pois amplia e aprimora tudo na tela do computador, ecoa a digitação e atividades essenciais do programa, e automaticamente lê documentos, páginas da web, e-mail.
  • Lupas de desktop, ou CCTV's (televisores de circuito fechado), são ideais para usuários de baixa visão. Pois usam uma câmera para projetar a imagem ampliada em um monitor. Lupas de desktop são ideais para ler, escrever, ver fotografias e muito mais!
  • Lupas de vídeo portáteis são auxiliares de visão eficazes para ajudar pessoas com degeneração macular e outras deficiências de baixa visão mantendo sua independência. As soluções portáteis vêm em uma variedade de tamanhos de tela com configurações de contraste, iluminação e ampliação ajustável.
  • O OpenBook é um sistema de digitalização e leitura que converte instantaneamente materiais impressos em saída de fala ou grande impressão no computador, dando acesso seja um livro, atribuição de sala de aula, projeto de lei ou documento PDF.
  • AutoVerbal Pro Talking Soundboard auxilia a comunicação de pessoas com vários tipos de deficiências, através da opção de se expressar por voz eletrônica ou imagens.
  • Dragon Dictation funciona como um transcritor de palavras: escreve na tela tudo que está sendo dito por alguém ao alcance do celular e, com isso, auxilia deficientes auditivos a compreender os sons.
  • HandTalk é um tradutor simultâneo em dois idiomas, para os surdos que utilizam a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), e também para pessoas sem deficiência que querem se comunicar mesmo não tendo o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
  • Play It Down – funciona como medidor de decibéis para alertar sobre ambientes muito barulhentos e nocivos aos ouvidos.
  • TAP TAP faz o celular vibrar e piscar ao detectar algum som ambiente, como o de porta batendo, campainhas e detectores de incêndio. Os alertas são reguláveis de acordo com os ajustes do usuário.
  • ProDeaf é um tradutor simultâneo de LIBRAS – Português
  • Big Launcher foi desenvolvido com baixa visão utilizarem Smartphones com mais autonomia. Através dele, a tela inicial é alterada para uma interface com ícones maiores. Os aplicativos ficam maiores na tela, com maior contraste, assim, mesmo com baixa visão é possível localizá-los sem dificuldade. É possível fazer algumas personalizações também, para deixar o celular ainda mais adaptado para o usuário em questão.
  • LetMe Talk, para pessoas com deficiência que disponibilizam uma forma de comunicação alternativa. Possui boas avaliações e funcionalidades eficientes. Teclados otimizados, sugestões de palavras e opções de vozes alternativas para traduzir o que o usuário escreve em falas. Esse aplicativo  conta com opções rápidas de “Sim” ou “Não” e figuras que representam as ações.                                                                                                             
  • O Projeto Participar é uma iniciativa da Universidade de Brasília (UnB) e desenvolve softwares que são verdadeiras ferramentas educacionais para inclusão de jovens e adultos com deficiência intelectual e autismo. Os softwares estão disponíveis em uma plataforma online e gratuita. Já foram desenvolvidos 5 softwares específicos para o público autista e 8 para pessoas com deficiência intelectual que podem ser baixados sem custo algum através do site: http://www.projetoparticipar.unb.br


Vimos que é impossível determinar limites, barreiras e fronteiras para o desenvolvimento de pessoas com qualquer tipo de deficiência. Por isso, incentive os funcionários com deficiência a trabalhar em home office, adapte ferramentas e ambientes e cumpra com o dever e responsabilidade como empresa.

Pra encerrar... ressalto que não somos  super-heróis. A única coisa que queremos é EVOLUIR diariamente nossa autoconfiança em igualdade com todo mundo. Um forte exemplo é o que abordei hoje... com o home office nosso talento tem ficado mais evidente que nossas deficiências.

Até a próxima!

Tags: home office, PCD, trabalho remoto, inclusão, acessibilidade, tecnologia inclusiva, reabilitação, empregos PCD, vagas para PCD, contratação PCD, produtividade, diversidade, igualdade, lei de cotas, LBI, deficiências múltiplas, pessoa com deficiência, INSS
 Tulio Mendhes Tulio Mendhes
Inclusive

Jornalista; Administrador; Jurisconsulto, palestrante sobre a Lei Brasileira de Inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência – PCD). Consultor sobre investimentos, comportamento e boas práticas relacionadas às acessibilidades. Colunista do G1 Triângulo (Mão na Roda) abordando aspectos da vida das PCDs. Colunista de um portal de notícias regional sobre saúde, bem-estar e comportamento. Aqui no Megaminas, a proposta é aproximar o “normal” do diferente. Inclusive, transformando questões sociais em ferramentas de democratização, em informações dinâmicas, ágeis, e interativas.

Leia também: Quais são e como aplicar as acessibilidades nas empresas?