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Roupa é afeto (e eu posso provar!)

Publicado em 12/05/2021 - 21:24 Por Letícia Braga
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Créditos da imagem: Leticia Braga
Essa é a máxima que quero sempre explorar por aqui, nessa experiência de dividir minhas impressões sobre roupas, estilo e tudo mais que reluz no meu vestir aos 30. Sim, 30. É que foi desde que completei 30 anos - e isso ainda é recente - que surgiu essa vontade de expressar minhas inquietudes sobre imagem. A minha imagem mais íntima. Não só aquela que passo para você, mas principalmente a que eu tenho de mim.


     
Hoje, meu modo de me vestir é capaz de expressar meu humor, meus desejos e até meus receios. Cores, acabamentos, recortes e texturas que me complementam e me reconectam com a minha personalidade. Não se trata de uma relação sempre amigável, confesso. Mas é bonita, porque envolve afeto. E não sei se ela surgiu no instante em que me percebi adulta, diante da necessidade inconsciente de me afirmar como alguém no mundo, ou talvez no desabrochar da minha juventude, na intensidade dos pequenos movimentos que me fizeram mulher, ou ainda se sempre estiveram ali, a moda e o afeto, como parte de mim.

ARMÁRIO BAGUNÇADO, VIDA BAGUNÇADA?!

Outro dia estava reparando a bagunça no meu armário. Era uma semana especialmente confusa, cheia de cobranças pessoais que se instalaram na minha cabeça. Durante vários dias, ao invés de dobrar, embolei as roupas que tirava em cantos escondidos: um pouco nas gavetas, outras no fundo do móvel. Culpei o tempo apertado, outras prioridades mais urgentes, e fui acumulando até ficar visível que aquele era o retrato da minha angústia.

Num fim de semana de sol, coloquei tudo pra fora. Me vi envolta por todas as peças e, após observar com paciência, item por item, fui dobrando e pendurando, e calmamente colocando cada um em seu lugar, como quem organiza as ideias e o coração.


    
Essa cena não é rara, e posso apostar que você já viveu isso também. Da nossa relação com as roupas, é possível extrair uma infinidade de reflexões e sentimentos que vão muito além das tendências, do consumo e do vestir puro e simples, como forma de cobrir o corpo. Delas, nasce a moda, socialmente delimitada - repleta de complexidades, padrões, abismos e incoerências... Mas de onde pode-se fazer brotar também o afeto, cujo significado, neste caso, "sentimento terno de afeição por algo ou alguém", ganha ainda mais força quando esse "alguém" dá lugar a "si mesmo".

TUDO NO LUGAR, MAS SEMPRE UM NOVO LUGAR

Da minha infância, lembro dos passeios pelo centro da cidade, quase rotineiros aos finais de semana, muitas vezes só olhando as vitrines, de mãos dadas com minha mãe. Das minhas festinhas de aniversário com cinco ou seis anos, lembro do conjunto verde de cetim brilhante, misturado estranhamente com aplicações de um trançado em listras laranjas e azuis. E, se eu fechar olhos, consigo sentir a textura daquela roupa colorida e engraçada, que ela escolheu a dedo e eternizou numa fotografia em que estou com cara de assustada. Em outros anos ela me vestia à caráter, com a roupa combinando com o tema da decoração.


    
Lembro do cheiro das roupas passadas e dos uniformes do colégio, que ela sempre deixava impecáveis. Lembro também que sempre fui de espalhar as roupas pela casa, sempre um tanto desorganizada e um pouco perdida, talvez. 
E que aprendi com ela, aos trancos e barrancos, que antes da bagunça ficar grande, é preciso parar o que estiver fazendo, e colocar tudo no seu devido lugar. Coisa de mãe, né? - e algo que levei pra vida.

Aprendi também que esse armário pra onde voltam as roupas não precisa ser sempre o mesmo armário. A vida oferece vários espaços pra gente organizar a bagunça e começar outra vez.  Naquele fim de semana de sol, encontrei, no meio da confusão, um lenço de cores quentes e profundas - que foi da minha mãe na juventude - e que me cai bem com qualquer roupa que uso. Quando estou com ele, me sinto linda e forte. 

Então, se roupa não é afeto, não sei o que é.


    
Até a próxima, manas <3

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Tags: roupa, moda, estilo, moda feminina, afeto
 Letícia Braga Letícia Braga
Moda Com Afeto

Uma jornalista que, nas horas vagas, gosta de dar pitacos sobre roupas e afetos. Uma mulher, se redescobrindo aos 30 anos, e fazendo as pazes com a sua imagem através da moda. Me acompanhe também no Instagram: @leticia_braga.

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