De olhos fechados enxergo, e de olhos abertos, escuto
Publicado em 14/12/2021 - 12:41 Por Márcia CostaPAISAGEM SONORA
(Nathália Lobato)
O mundo e seus sons
Os objetos e seus sons
As pessoas e seus sons
De olhos fechados enxergo
De olhos abertos escuto
Subjetividade e realidade
Sentidos que se completam
Ouvir
Olhar
As paisagens sem o som, um vazio
Os sons sem as imagens, metade
Ando na rua, fotografo através do olhar
E a trilha sonora completa o que vejo
Uma buzina, um aviso
Um freio brusco, sinal vermelho
Risos fartos dos vizinhos à porta
Som raro
Sirene da polícia
Som farto
Escolho o que quero multiplicar
Descarto o que incomoda
Paisagem sonora ou visual?
Paisagem que percebo quando estou de passagem
O mundo e seus sons
Os objetos e seus sons
As pessoas e seus sons
Encontro este poema que traduz muito bem a relação entre som e imagem. A imagem por si só não consegue representar toda a emoção contida na música – é preciso ouvi-la para senti-la. No entanto, música e imagem se complementam e nos convidam a viver grandes experiências estéticas. Foi o que vivenciei recentemente, durante um recital com um órgão de tubos histórico em São João del Rei (MG).
Em uma noite de lua intensa, a grandiosa arquitetura do Museu Regional de São João del-Rei abrigou um recital de órgão de tubos em comemoração dos 308 anos da cidade. Enquanto executava uma belíssima trilha sonora, a grande organista Elisa Freixo nos falava sobre a história e a preservação do instrumento.
Parte integrante do acervo do museu, o órgão de tubos tem 200 anos de idade e foi construído quando São João del-Rei era ainda uma vila. Pertenceu primeiramente a uma fazenda da região, e, mais tarde, à Igreja. Em seu testamento, um padre de São João del-Rei deixava o órgão de tubos para a Ordem do Carmo, que doou o instrumento para o museu.
Enquanto a organista nos fazia viajar pelas notas musicais, éramos contagiados pela trajetória e encanto daquele instrumento raro, herança cultural do município e parte do patrimônio musical da cidade. Revivemos diversas melodias do período colonial e imperial, em músicas escritas por compositores locais, como o Pe. José Maria Xavier.
A música é a mais abstrata das artes, enquanto a fotografia é uma das mais representativas. Por sua natureza não literal, a música é sugestiva e nos comovia. Por isso, o som produzia em nós imagens mentais.
Ouvir aquelas notas envoltos em uma arquitetura colonial faz ecoar em nós o som da nossa história. Somadas às imagens do museu e da cidade de São João del Rei, vivenciamos ali uma experiência transcendental, memória e afeto das nossas Gerais.
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